Brasil alivia freada na produção de biocombustíveis
Assis Moreira
Depois de anos em rápida expansão, o crescimento da produção mundial de
biocombustíveis sofrerá dramática desaceleração em 2009, de acordo com
projeções da Agência Internacional de Energia (AIE). A perda de fôlego
só não será maior em razão da elevada produção de etanol no Brasil.
Neste levantamento mais recente, a AIE ajustou para baixo sua
estimativa para o incremento da produção global em um volume
equivalente a 220 mil barris de petróleo por dia. A entidade prevê,
agora, que a produção global de biocombustíveis só aumentará 95 mil
barris por dia (6,6%) este ano, ante alta de 345 mil barris/dia
(31,55%) registrada em 2008.
A recessão global, a queda dos preços do petróleo, o aperto de crédito,
os problemas nos subsídios concedidos pelos governos e a redução da
demanda de combustíveis para transporte "conspiram" para minar a
produção e a viabilidade econômica dos biocombustíveis, de acordo com
avaliação da agência.
Mas a forte revisão mascara realidades diferentes. Os maiores problemas
são verificados nos países desenvolvidos, com usinas de etanol ou
biodiesel nos Estados Unidos e na União Europeia em falência ou com
capacidade ociosa. Ao mesmo tempo, a produção brasileira - que,
conforme a AIE, foi maior do que a esperada em 2008 - deverá continuar
relativamente estável este ano.
Nos EUA, a projeção é de que entre 15% e 20% da capacidade total de
produção de 800 mil barris por dia de etanol já tenha sido cortada ou
esteja ociosa, enquanto o restante segue a operar, mas abaixo do
potencial. E a lucratividade também diminuiu.
O declínio de 115 mil barris diários na produção de etanol nos EUA
tende a ser compensado por maior volume brasileiro. Dessa forma, o
"declínio líquido" deverá vir da Europa, da China e de outros paises
asiáticos. A expectativa é de que um aumento na mistura de etanol na
gasolina nos EUA, para 685 mil barris por dia (10,5 bilhões de galões
ou 39,7 bilhões de litros), possam oferecer um certo suporte à produção
local.
Para a Europa, a AIE projeta estagnação na produção de biodiesel, mesmo
com a decisão da UE de sobretaxar as importações procedentes dos EUA.
De um lado, pesa o fraco apoio governamental e o excesso de capacidade
na Alemanha - maior país produtor do bloco; de outro, a importação de
25 mil barris diários procedente dos EUA deverá ser substituída por
ofertas de America Latina e Ásia, mais do que pela própria produção
doméstica europeia.
França, Itália, Espanha e Grã-Bretanha elevaram suas metas de produção
de biocombustíveis para 2009, mas a alta será pequena. Na América
Latina, a estimativa é de aumento da produção em quase 60 mil barris
equivalentes por dia, ante os 85 mil barris do ano passado. A maior
parte do crescimento vem do etanol brasileiro, que teve média de
produção de 460 mil barris por dia em 2008, nos cálculos da agência.
A AIE se apoia em relatório da Unica (entidade que reúne as usinas do
Centro-Sul do Brasil) para destacar o que chama de "crescentes
barreiras econômicas" que contiveram a expansão do etanol brasileiro.
Apenas de 15 a 20 de 35 novas usinas planejadas para este ano verão a
luz do dia. Além disso, maior parte da produção de cana vai para a
produção de açúcar, que hoje oferece melhores margens.