O Globo Online
Gabriela Valente, Geralda Doca e Bruno Rosa
Depois de anunciar que pretende abrir o capital da BR Distribuidora
ou conseguir um sócio para a subsidiária — como antecipado pelo GLOBO no
fim de maio —, a Petrobras negocia a venda de outro ativo importante: a
Gaspetro, dona de uma rede de quase sete mil quilômetros de gasodutos
(TAG) e com participação em 19 empresas de distribuição de gás natural
no país, como a Ceg-Rio. A decisão da estatal é vender 49% da empresa.
Segundo fontes que participam das discussões, as negociações já estão
avançadas e há três grupos interessados em comprar parte da companhia.
De acordo com uma fonte, a Petrobras pretende criar uma holding com 49%
da Gaspetro para vendê-la.
A decisão de vender diretamente e não abrir o capital da empresa foi
tomada pelo comando da Petrobras, depois de avaliar que é importante
continuar a controlar essa empresa do grupo.
— É um ativo muito específico e queremos manter o controle. As
conversas já começaram, mas, em negócios, você tem de ter paciência
oriental — afirma uma das fontes.
A Gaspetro e a BR Distribuidora fazem parte de um primeiro lote de
venda de ativos no programa de desinvestimento da Petrobras (cujo
objetivo é vender até US$ 15,1 bilhões até 2016), que pretende aumentar a
geração de caixa e reduzir o endividamento da companhia (de US$ 103,6
bilhões no fim do primeiro trimestre). É uma das estratégias para
atravessar a crise causada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, e
agravada pelo baixo preço internacional do petróleo, que reduz as
receitas da estatal.
A área de Gás e Energia é a que mais terá venda de ativos. A meta é
se desfazer de US$ 6 bilhões até ano que vem. Segundo consultorias, o
número representa quase um terço de toda a subsidiária.
Outra subsidiária integral da Petrobras, a Transpetro — responsável
pelo transporte do petróleo e seus derivados, dona de navios e terminais
— também pode ser vendida ao setor privado. A ideia começou a ser
discutida no Conselho de Administração da empresa e a finalidade é
trazer sócios privados para melhorar a governança e os níveis de
eficiência da subsidiária.
A proposta é defendida pelo governo, mas não é trivial, segundo um
técnico, pois a Transpetro tem uma função social, ligada à marinha
mercante. Diante disso, a Transpetro, com sede no Rio e presente em
vários estados, somente deverá entrar na roda de ativos à venda em uma
segunda rodada.
— Transpetro é um bom ativo, mas ainda não está no radar — frisou um
executivo. — O processo da Transpetro é longo. Não faz parte do primeiro
lote.
Mesmo assim, há alguns estudos internos sobre como deveria ser a
venda ou abertura de capital da Transpetro. Tudo, entretanto, é
embrionário, destacou essa fonte. Também está fora desse primeiro lote a
Liquigás, responsável pela distribuição de gás de cozinha.
A decisão de fazer o plano de desinvestimento em lotes é estratégica,
já que há diferenças entre os grandes ativos a serem vendidos. Em
alguns casos, a Petrobras deve optar pela abertura de capital dessas
subsidiárias. Em outros, deve simplesmente vender participação ou a
empresa inteira. Abrir mão da totalidade desses ativos é a opção no caso
dos ativos mais simples, explicou uma fonte.
Segundo uma fonte do governo, a Petrobras dará prioridade à venda de
ativos que tragam receitas em dólar para enfrentar o endividamento da
empresa. Estão na roda investimentos nos Estados Unidos — como campos no
Golfo do México —, na América do Sul e na África, onde opera em
parceria com uma empresa pertencente ao banco BTG.