Notícia

Caminhoneiros relatam defasagem no frete e divisão da categoria


O Globo Online

Ronaldo D’Ercole, João Sorima Neto e Juraci Perboni*


Enquanto o preço do frete para o transporte de soja da região
Centro-Oeste para os portos do Sudeste recuou de uma faixa entre R$ 25 e
R$ 30 por saca, em meados de 2012, para algo entre R$ 16,50 e R$ 19,80,
no início deste ano, os custos dos caminhoneiros e das transportadoras,
como os pedágios e o óleo diesel, acumularam altas em torno de 20%. É
esse descompasso entre receitas e custos, como ocorre no transporte de
soja, que mobiliza grande parte da frota nacional de caminhões, o
principal motivo da onda de protestos dos caminhoneiros, que nos últimos
dez dias deram um nó na circulação de alimentos e mercadorias pelo
país.


— Desde 2013, nosso faturamento caiu 40%. Por isso, defendemos a
criação de uma tabela de referência dos fretes e a queda no preço do
diesel — diz Valmir Chitolina, diretor da Cooperativa de Caminhoneiros
de Sorriso, no Mato Grosso.


RISCO DE INDEXAÇÃO DE PREÇO


A criação da tabela de preços dos fretes é uma das principais
bandeiras dos autônomos e foi acatada pelo governo, que vê com ressalvas
essa medida, que acabaria criando uma espécie de indexação dos preços
do transporte de carga. Uma reunião para tratar dessa questão foi
marcada pelo Ministério dos Transportes para o dia 10 de março.


Um levantamento feito pela NTC&Logística, entidade que representa
as transportadoras de carga, mostra que os valores dos fretes estão
defasados em 14,11% em relação aos custos. As informações foram
levantadas junto a 250 empresas do setor. Segundo o assessor econômico
da entidade, Lauro Valdívia, desde junho de 2012, quando começaram a ser
feitas pesquisas deste tipo, as defasagens variaram entre 7% e 14%.
Para ele, embora o diesel seja o item que mais afeta os custos e tenha
sido o estopim da paralisação dos caminhoneiros, há outros fatores que
vêm provocando a defasagem no frete.


— As transportadoras não conhecem seus custos de forma correta. Por
exemplo, não são remuneradas pelo tempo gasto para realizar carga e
descarga. As restrições de circulação de caminhões em vias de grandes
cidades, como São Paulo, também têm impacto negativo, porque o motorista
fica sem produzir. As condições precárias de infraestrutura também
contribuem, além do aumento de tarifas públicas — observa Valdívia.


Embora não tenha relação com os caminhoneiros autônomos, Valdívia avalia que eles sejam afetados pelos mesmos problemas.


Chitolina confirma as mesmas dificuldades. Ele lembra que, com a
queda dos preços das commodities no mercado internacional, os produtores
de soja do Mato Grosso também passaram a ganhar menos e repassaram essa
baixa aos caminhoneiros.


Para a economista da consultoria Tendências, Amaryllis Romano,
especialista em agronegócio, esse descompasso entre o aumento do diesel e
a queda no preço das commodities impactou o preço do frete.


Um dos líderes dos bloqueios nas estradas de Santa Catarina, Júnior
Bonora, explica que a maioria das empresas (embarcadoras) só contrata o
serviço em transportadoras, e os caminhoneiros autônomos são
subcontratados ou “terceirizados”, recebendo entre 50% e 70% menos do
que se negociassem diretamente.


— Não temos poder de negociação diretamente com o embarcador. Depende
do governo fazer o balizamento, se o governo não intervier nesse frete,
daqui a seis meses, um ano, estaremos parados porque não temos
condições de sobreviver — diz Bonora.


Laertes José de Freitas, presidente do Sindicato dos Transportadores
Autônomos de Bens do Paraná, diz que, com o aumento da frota, há uma
“competição desleal” entre os próprios caminhoneiros. Para não ficar
parado, muitos dos autônomos aceitam receber valores bem abaixo do que
seria o frete justo.


*Especial para O GLOBO



Data: 02/03/2015