Notícia

Na fronteira com a Venezuela, brasileiros fazem fila por gasolina


Mauro Zanatta e Ruy Baron



Na remota fronteira do Brasil com a Venezuela, um litro de gasolina
vale ouro. Longe de ser caro, já que pode ser adquirido pelo
equivalente a R$ 0,50 por litro, o combustível de alta qualidade é
disputadíssimo pelos moradores da cidade fronteiriça de Pacaraima, onde
não há postos de serviço. Atraídos pela zona franca de produtos
eletroeletrônicos, os turistas da capital Boa Vista e de Manaus (AM)
também sofrem restrições para encher o tanque do carro.




A briga é pelo direito de comprar. As autoridades da Venezuela
proibiram a livre aquisição de gasolina por brasileiros na região da
fronteira. Desde março, está em vigor um acordo bilateral que tentar
impedir a ação de contrabandistas na fronteira. Um grupo de trabalho,
composto por um assessor da Casa Civil da Presidência da República,
trata do tema desde o ano passado. Como medida paliativa, foi fixado um
revezamento para o abastecimento de veículos emplacados em Pacaraima.
Valem os números finais das placas. Carros com finais 1, 2 ou 3 são
autorizados a comprar gasolina apenas às segundas e quintas. Os finais
4, 5 e 6 compram às terças e sextas. As placas 7, 8 e 9 estão
autorizadas a abastecer às quintas e sábados. No domingo, voltam as
placas 9 e 0.




Os brasileiros também não podem abastecer em postos de Santa Elena
de Uairén, situada a 15 km da linha da fronteira. Apenas um posto da
distribuidora PDV, construído a alguns metros após a zona fronteiriça,
está aberto aos estrangeiros. Na tentativa de garantir o sucesso das
ações restritivas, as autoridades da fronteira passaram a exigir dos
motoristas, na entrada do posto de combustível, um formulário carimbado
por agentes da Polícia Federal. Antes, é preciso apresentar aos agentes
a carteira de motorista e o documento do veículo. Aos "turistas", só é
permitido um abastecimento por semana.




O Exército venezuelano controla o acesso às bombas de gasolina e
óleo diesel. Só entra quem tiver o papel carimbado. No domingo, dia 5
de abril, havia uma fila considerável à espera de gasolina. "Foi a
única forma de controlar o contrabando", afirmou um policial no posto
da fronteira. Ele não quis ser identificado pela reportagem, mas disse
que, mesmo assim, o controle das autoridades venezuelanas sobre seus
cidadãos deixa um espaço enorme para a subsistência da prática ilegal.
É possível, segundo ele, encontrar gasolina nas oficinas mecânicas e
lojas de auto-peças de Santa Elena. Um litro de gasolina é vendido a R$
1,50 por contrabandistas venezuelanos, segundo ele. No Brasil, o litro
custa R$ 2,70 nos postos.




No posto de controle da aduana brasileira, outro policial federal
informa que eram comuns apreensões de veículos alterados para receber
mais combustível do que o permitido. "Já apreendemos carros com 1 mil,
1,3 mil litros de gasolina", disse. O perigo é ainda maior porque os
veículos têm de percorrer 800 metros de descida em curvas desde a zona
de fronteira, localizada em uma altitude superior a 900 metros, até a
planície de Roraima. "Nesse morro abaixo, os carros viram uma bomba que
pode explodir a qualquer momento", avalia o agente.




Como não há nenhum posto de combustível ao longo dos 230
quilômetros que separam Boa Vista da fronteiriça Pacaraima, normalmente
é necessário abastecer o carro antes de voltar à capital de Roraima. Ou
levar combustível extra no porta-malas para evitar uma eventual pane
seca. Ocorre que o transporte da gasolina em "carotes" (tanques
plásticos) é proibido. Se a fiscalização policial flagrar a situação, o
produto pode ser imediatamente confiscado.



Fonte: Valor Econômico
Data: 14/04/2009