A oferta de álcool não é suficiente, e nem será, nos próximos anos, prevêem
especialistas ouvidos nas reportagens de Alessandra Saraiva, Sérgio Torres e
Eduardo Magossi, no Estado (25/7). O desequilíbrio entre a oferta e a procura
evidencia-se nos preços dos últimos 12 meses: o do etanol hidratado, que
abastece os veículos, aumentou 29%, e o do álcool anidro, que é misturado
àgasolina, aumentou 46%. O álcool anidro alcançou o preço recorde dos últimos
oito anos, em pleno período de safra da cana-de-açúcar.
Na Região Centro-Sul, as chuvas intensas de 2009, as secas do ano passado
e as geadas deste ano afetaram a qualidade da cana, cuja produção prevista para
a safra 2011/2012 caiu de 560 milhões para 530 milhões de toneladas. Como as
usinas têm capacidade de moagem de 630 milhões de toneladas, elas operam com
capacidade ociosa - o que onera a produção. Para voltar a operar a plena carga,
as usinas teriam de investir R$ 6 bilhões no plantio de cana, calcula o diretor
comercial do setor sucroal-cooleiro do Itaú BB A, Alexandre Figliolino. Além de
investimentos, falta crédito, afirma o presidente da Organização de Plantadores
de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Ismael Perina Júnior.
Sem os investimentos necessários, a área plantada de cana-de-açúcar, que
aumentou, em média, 10% ao ano até 2008, hoje cresce de 2% a 3%, avalia a União
da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única). E os investimentos feitos recentemente
porgrandes empresas emrefor-ma ou ampliação de canaviais não terão efeito no
curto prazo. Há previsões de que as safras serão ruins nos próximos três a cinco
anos, mas há prognósticos mais pessimistas: aconsulto-ria Projeto Brasil
Sustentável estima que haverá mais uma década de produção insuficiente e preços
elevados. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que a demanda de etanol
quase triplicará nesta década, de 27 milhões de litros, em 2010, para 73 milhões
de litros, em 2020. A elevação de preços prejudica, em especial, os consumidores
que adquiriram automóveis flexfuel - 2,87 milhões de pessoas, no ano passado;
1,37 milhão, no primeiro semestre deste ano; e estimados 14 milhões, entre 2004
e o fim de 2011.
Entre 2005 e 2010, o número de veículos flexfuel aumentou, em média, 23%
ao ano, enquanto o volume de cana-de-açúcar moí-do cresceu 8%. A escassez
agravou-se com a redução à metade do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) sobre os carros flex, em 2008. E em 2012, diz o consultor Cristiano
Martins Guimarães, a produção de etanol será, na melhor das hipóteses, igual à
deste ano - o que pressionará os preços nas bombas, pois no ano que vem serão
produzidos 3 milhões de veículos flex.
Há pouco a fazer, no curto prazo, para aumentar a produção de
cana-de-açúcar e a oferta de etanol hidratado ou anidro. Mas há o que não fazer.
Por exemplo, a proposta de mudar a política de mistura de álcool anidro na
gasolina - de 25% para 18%, em estudo no âmbito federal - foi adiada. "Uma
medida que parece boa no curto prazo pode criar problemas que prejudicarão o
setor no longo prazo", notou o presidente da Bunge Brasil, Pedro Parente. Teria
bons resultados, no entanto, segundo Figliolino, a concessão de estímulos para a
produção de energia elétrica a partir da biomassa. Entre as medidas citadas pelo
Ministério de Minas e Energia está o aumento da capacidade de produção de etanol
pela Petrobrás, que hoje responde por 5% do consumo e passaria a 15%. Mas isso
demandará tempo.
Sem meios para elevar a oferta de álcool no curto prazo, o governo
decidiu importar 1 bilhão de litros de álcool anidro. Parece ser uma medida
paliativa, pois não há como evitar que os preços do etanol permaneçam elevados e
se reflitam no índice oficial de inflação, admitiu a coordenadora de índices de
preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. O melhor que o governo tem a fazer,
imediatamente, é definir com clareza a política de médio e de longo prazos que
pretende adotar para o setor sucroalcoo-leiro. Sem isso, será cobrado pela falta
de investimentos e pelos prejuízos causados aos consumidores de álcool.
|