Em meio à expectativa por mudanças em seu alto-comando, a Petrobras está
promovendo seu ajuste orçamentário. Com o objetivo de captar recursos e
compensar parte da navalhada em seu programa de investimentos para 2011-2015, a
estatal vai reduzir sua exposure em algumas operações. Não por acaso, o
epicentro deste processo é a diretoria de energia e gás, nãos mãos de Maria das
Graças Foster, "Dilmete" de carteirinha e nome cotado para assumir a presidência
da estatal em substituição a José Sergio Gabrielli. A companhia vai diminuir
suas participações acionárias em distribuidoras estaduais, quase todas mantidas
por intermédio da subsidiária Gaspetro. A empresa está no capital de 18 das 24
concessionárias do país.
A política de extensão dos tentáculos no setor adotada nos últimos 10
anos continua sendo vista como estratégica pela estatal, sobretudo para
assegurar mercado para o gás produzido pela própria companhia. No entanto, a
direção da Petrobras entende que é possível abrir mão de alguns anéis e, ainda
assim, manter uma posição hegemônica no segmento, sem prejudicar a venda do
produto. Além da soma amealhada diretamente com a negociação de uma parcela das
suas ações nas distribuidoras estaduais, a companhia calcula que ainda poderá
alcançar uma economia superior a R$ 1 bilhão em decorrência da redução de
aportes nestas empresas.
Nos últimos dois meses, a diretoria de energia e gás mapeou os ativos nos
quais a estatal deverá reduzir sua fatia societária. A primeira da lista é a Gas
Brasiliano, recémcomprada pela Petrobras. A companhia adquiriu 100% das ações da
distribuidora paulista, mas não tem interesse em permanecer solitária no
capital. A SCGás, de Santa Catarina, a Sergás, de Sergipe, e a Copergás, do
Paraná, também vão entrar nesta roleta. Em todas elas, a Petrobras tem uma
participação de aproximadamente 41%. A estatal já teria oferecido parte de suas
ações para a Mitsui, sócia das três distribuidoras por meio da Gaspart. No
entanto, o mais provável é que ocorra uma operação triangular. A trading
japonesa está tentando atrair a conterrânea Sumitomo para o capital destas
empresas, com a aquisição de um naco das ações em poder da Petrobras. Outro caso
em que a estatal tem uma exposição considerada excessiva é o da Potigás (RN), da
qual controla 83%. Na contramão, algumas das participações são tratadas na
Petrobras como algo quase canônico e, portanto, imutável. Os dois maiores
exemplos são as fatias na Ceg (25,3%) e na Ceg Rio (33,75%), que estão entre as
cinco maiores distribuidoras de gás do país.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas, para levar o projeto adiante, o
presidente da Petrobras, seja José Sergio Gabrielli, seja Maria das Graças
Foster, terá de contornar algumas balizas políticas em seu caminho. É o caso da
Bahia. Na mão contrária dos planos da estatal, o governador petista Jacques
Wagner tem feito forte pressão para que a companhia aumente seus investimentos
na BahiaGás, da qual detém 24,5%. Cobrança semelhante vem do Sul. Outro petista
histórico, Tarso Genro também tem se movimentado em Brasília não apenas para
evitar qualquer tentativa da Petrobras de reduzir sua participação na Sulgás,
mas também para arrancar do governo federal a garantia de novos aportes na
concessionária.
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