Notícia

Líbia: produção para e petróleo sobe


A notícia, divulgada pelo site do jornal britânico “Financial Times”,
de que metade da produção de petróleo na Líbia, de cerca de 1,6 milhão
de barris diários, já estaria paralisada fez com que os preços do
produto voltassem a subir com força ontem. O barril do Brent,
referência internacional, ultrapassou os US$ 111, enquanto o do tipo
leve americano chegou a ser negociado a US$ 100, recuando um pouco
depois. Em ambos os casos, os preços estão no maior patamar desde antes
do agravamento da crise financeira global, com a quebra do banco Lehman
Brothers, em setembro de 2008, e cada vez mais próximos do recorde
histórico de US$ 147, em julho daquele ano.





Em Londres, o Brent avançou 5,6%, para US$ 111,73. Já em Nova York a
alta foi de 2,8%, para US$ 98,10. Segundo a Bloomberg News, a cotação
do leve americano recuou depois de fontes afirmarem que a Arábia
Saudita não esperaria a reunião de emergência da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep) para elevar sua produção.





E há quem espere mais. A corretora Nomura Holdings afirmou ontem em
nota que os preços do barril podem chegar a US$ 220 se, além da Líbia,
a produção parar na Argélia. O maior temor é que os protestos cheguem à
Arábia Saudita e retomem no Irã.





— Os preços do petróleo não cairão tão cedo — disse à Reuters Shelley
Goldberg, estrategista de commodities da Roubini Global Economics. —
Não se trata apenas da Líbia, mas do temor de que esses movimentos se
espalhem por todo o Oriente Médio e Norte da África. Estamos
provavelmente em um nível intermediário das revoltas, com mais pela
frente.





Operações afetadas em 9 petrolíferas




Até agora, nove petrolíferas — BP, Eni, Total, Repsol, Royal Dutch
Shell, Statoil, RWE, OMV e Wintershall — suspenderam total ou
parcialmente suas operações na Líbia e estão tirando seus funcionários
no país. A italiana Eni fechou o gasoduto que abastece a Itália, mas
assegurou que tem estoque para atender à demanda.




Já a austríaca OMV viu suas ações desabarem até 7,8% depois de
anunciar a paralisação de suas atividades na Líbia, onde obtém 10% de
sua produção total. A empresa não tem como compensar essa perda na
produção.





O “Financial Times” citou nota da consultoria JBC Energy, segundo a
qual o mundo “começa a entrar em um verdadeiro choque do petróleo”. Já
Amrita Sen, analista de energia do Barclays Capital, disse que a
gravidade vai além da perda de barris. “A desestabilização no mundo
árabe, onde estão as maiores reservas e produção de petróleo e gás do
planeta, é de extrema importância”.




Os rebeldes que tentam derrubar o governo de Muamar Kadafi têm
consciência da importância da indústria petrolífera para o país. Um dos
principais ativistas da cidade de Benghazi, que não se identificou por
questões de segurança, disse à agência Dow Jones que os rebeldes que
assumiram o controle de regiões produtoras não querem atrapalhar a
exploração.




— As operações de petróleo e gás devem continuar como estão. Não
faremos nada contra as empresas estrangeiras porque elas estão ajudando
a Líbia e fazendo seu trabalho.




Segundo a Dow Jones, citando fontes locais, petrolíferas no Leste
da Líbia, como Arabian Gulf Oil Company e Marsa Al Brega Refinery,
estão sob o controle de rebeldes pró-democracia. Riad Kahwaji, fundador
do think tank Inegma, disse à agência que os líderes tribais não vão
depredar as instalações porque sabem que o petróleo é sua maior fonte
de renda.




A turbulência na Líbia continuou pesando sobre as bolsas
internacionais. Tóquio recuou 0,80%. Londres fechou em queda de 1,22%,
enquanto Frankfurt e Paris caíram 1,69% e 0,92%. Em Nova York, o índice
Dow Jones recuou 0,88% e a Nasdaq, 1,21%.





O IMPACTO NA PETROBRAS




A empresa ganha com a alta do petróleo, mas poderia ganhar ainda
mais se repassasse para os preços internos dos combustíveis a alta das
cotações no exterior. Desde 25 de janeiro, quando se agravaram os
protestos no Egito - que depois culminaram com a crise na Líbia - a
empresa perdeu R$ 204,1 milhões devido ao descompasso entre os preços
da gasolina e do diesel nos mercados brasileiro e internacional.



Fonte: O Globo
Data: 24/02/2011