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Montadoras recuperam, depois de 20 anos, o número de empregados

Foram necessários 20 anos para a indústria automobilística
brasileira recuperar o nível de emprego e chegar a este mês com 135,3
mil funcionários diretos. Nesse período, o Brasil ganhou 11 novas
fábricas e assistiu a uma revolução no método produtivo, com várias de
suas atividades repassadas a terceiros e linhas de montagem com mais
funcionários indiretos do que diretos.



Na fábrica de caminhões da Volkswagen/MAN em Resende (Rio de
Janeiro), apenas 894 trabalhadores são registrados pela montadora e 5
mil são contratados de sete fornecedores de autopeças que atuam no
chamado sistema modular de produção.




Em janeiro de 1991, as montadoras empregavam 136 mil pessoas. Ao
fim daquele ano, eram 124,8 mil e uma produção de 960,2 mil veículos.
Neste ano, até outubro, já foram fabricadas 3 milhões de unidades. O
número de empregados diretos seria maior não fossem as importações, que
este ano devem passar de 600 mil unidades, reclama o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.




Empregos. “O volume equivale a uma fábrica grande”, afirma Nobre.
Segundo cálculos feitos pelo Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), se essa frota fosse produzida
localmente, seriam gerados mais de 15 mil empregos diretos nas
montadoras e 75 mil indiretos em toda a cadeia produtiva. “Estamos
gerando empregos em outros países”, diz o presidente da Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino
Belini.




Cerca de 65% das importações são feitas pelas próprias montadoras,
que trazem veículos de luxo das matrizes e modelos complementares da
Argentina e do México. Belini costuma justificar que o Brasil tem
acordo comercial com esses dois países e também exporta para lá. A
contrapartida não existe com veículos trazidos da Ásia, movimento que
mais cresce atualmente.




Nobre defende uma política industrial que privilegie a produção
local. “Para a montadora, tanto faz produzir aqui ou trazer  da matriz,
mas o País precisa pensar no seu futuro e fazer aqui produtos de alta
tecnologia, em vez de trazer caixas de fora com componentes que apenas
são montados aqui”, argumenta.




O Brasil é o sexto maior fabricante e o quarto maior mercado
consumidor de automóveis. Ná década de 90, cada trabalhador produzia em
média oito carros por ano. Hoje, são 29, segundo dados do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC. O emprego na montadora é um dos mais cobiçados,
pois a média salarial é maior do que em outras áreas.




Terceirização. José Pastore, professor de relações do trabalho da
FEA-USP, ressalta que são empregos “de altíssima qualidade, salário
bom, alta qualificação, estabilidade e chances de fazer carreira.”
Ressalta, porém, que o processo de terceirização e avanço tecnológico
ocorre em todos os setores e no mundo todo.




Belini lembra que, levando-se em conta a mudança no processo
industrial nos últimos anos, a geração de empregos no setor é mais
significativa. Um exemplo da própria Fiat, empresa que ele preside, é a
instalação, nos arredores da fábrica em Betim (MG), de cerca de 30
fabricantes de autopeças que realizam atividades antes feitas
internamente.




O executivo cita a montagem dos bancos. “Antes, recebíamos a
carcaça, colocávamos espuma e capa; hoje, os bancos chegam prontos e
entram na fábrica na sequência da linha de montagem”. A Fiat chegou a
empregar 25 mil funcionários. Hoje são 15 mil diretos e mais de 8 mil
indiretos, que frequentam a fábrica diariamente em funções de
logística, manutenção e limpeza.




Modelo mais ousado de produção foi introduzido no Brasil em 1996,
com a inauguração da fábrica modular da Volkswagen Caminhões, hoje MAN.
Variações desse processo foram adotados pela GM em Gravataí (RS) e pela
Ford em Camaçari (BA).




A Anfavea calcula que montadoras, fornecedores (incluindo de
matérias-primas como aço) e concessionários empregam, juntos, perto de
1,5 milhão de pessoas. Incluindo toda a cadeia, que passa por setores
como postos de combustível, companhias de seguro, financiadoras etc, o
número pode chegar a 5 milhões.




A indústria de autopeças não foi a herdeira direta de muitos postos
transferidos das montadoras, que também eliminaram funções como uso da
alta tecnologia e de robôs. O setor empregava 255,6 mil pessoas há 20
anos e hoje tem um quadro com quase 220 mil. O auge do emprego nas
autopeças ocorreu em 1989, com 310 mil funcionários.




Paulo Butori, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de
Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), cita a sofisticação
dos processos produtivos e as importações como justificativas. “Hoje
temos uma indústria muito mais moderna e mais produtiva,” A produção de
veículos em 20 anos cresceu quase quatro vezes, enquanto a mão de obra
nas autopeças caiu 14%.



Fonte: O Estado de S. Paulo
Data: 17/11/2010