Um plano nacional contra vazamento
O vazamento de óleo no poço da British Petroleum (BP) no Golfo do
México, nos Estados Unidos — que completou três meses até ser
parcialmente contido — provocará mudanças profundas nos sistemas de
segurança utilizados pela indústria de petróleo no mundo todo. E no
Brasil, as mudanças já se iniciaram. A Agência Nacional do Petróleo
(ANP), o Ibama e a Marinha começaram a elaborar o primeiro Plano
nacional de Contingência para conter vazamentos de petróleo em
alto-mar, como nos campos do pré-sal.
Atualmente, a Petrobras elabora os programas de contingência para
cada uma das plataformas, mas agora, segundo o diretor-geral da ANP,
Haroldo Lima, revelou em entrevista ao GLOBO, o governo adotará um
plano em nível nacional, com a atuação conjunta dos órgãos
fiscalizadores e do meio ambiente.
Apesar de afirmar que os sistemas de segurança adotados no país,
assim como sua fiscalização, estão entre os mais avançados do mundo,
Lima admite que certamente deverão ser aperfeiçoados devido ao
vazamento no Golfo. Mas alerta que o Brasil deve acelerar os projetos
de exploração de petróleo no pré-sal e também no pós-sal, com o risco
de a matéria-prima perder valor no futuro próximo com o maior uso de
fontes alternativas de energia, acelerado pelo acidente nos EUA.
Lima se declarou um defensor não só da aceleração da produção de
óleo no présal, como no pós-sal e também nas bacias terrestres, para
permitir o desenvolvimento do país e ajudar na redução da pobreza e da
desigualdade: — Temos que nos adiantar para evitar que a gente fique
com um mico.
O Globo: Devido ao acidente no Golfo do México, nos Estados Unidos,
até países como o Brasil deverão realizar mudanças em seus sistemas de
segurança?
Haroldo Lima: Sim. Mesmo países como o Brasil e a Noruega, que têm segurança operacional moderna, vão ter que se adaptar.
Certamente será necessária a adoção de novas medidas de segurança, e a nossa fiscalização também vai aumentar.
O Globo: Como o senhor responde às acusações de que a ANP estaria sendo omissa no caso do acidente no Golfo do México?
Lima: Não é verdade. Pelo contrário. Nós tomamos iniciativas
imediatas. No dia seguinte ao acidente da BP já começamos a fazer uma
avaliação do ocorrido e solicitamos relatórios de operação de todas as
empresas petrolíferas que atuam no Brasil.
O Globo: Diante do megavazamento de óleo da BP, o que acabou
levando algumas empresas do setor a adiar novos projetos de exploração,
o senhor acredita que o petróleo poderá vir a perder espaço para outras
fontes energéticas no mundo?
Lima: Com a decisão de suspender a exploração de petróleo na costa
leste americana, os Estados Unidos estão se privando de explorar
reservas de petróleo que variam entre 30 bilhões a 50 bilhões de barris
de óleo.
Para não se tornarem ainda mais dependentes da importação de
petróleo, principalmente do Oriente Médio, acredito que os Estados
Unidos vão acabar sendo obrigados a investir fortemente em combustíveis
alternativos
O Globo: O senhor acredita que o temor de novos acidentes poderia
colocar em risco, aqui no Brasil, a exploração do petróleo na camada do
pré-sal?
Lima: As energias alternativas podem tornar mais dispensável o petróleo que temos aqui.
Por isso temos que correr um pouco atrás desse nosso petróleo. Temos que nos adiantar para evitar que a gente fique com um mico.
O Globo: Mas o Brasil não estaria indo na contramão do mundo, já
que, lá fora, estão reduzindo o ritmo no lugar de acelerar a exploração
do petróleo?
LIMA: Temos maior experiência do que eles.
Temos o maior número de sondas de perfuração em operação. Não vamos
nos igualar a todos que estão tendo dificuldades. Esse pessoal da
Europa não tem a experiência que nós temos, com exceção da Noruega. No
pré-sal, por exemplo, já perfuramos 80 poços e, em nenhum deles,
ocorreu acidentes. Não vamos sentar nos louros. Temos que aumentar
ainda mais nossa segurança, mas sem interromper a atividade de
produção.
O Globo: O senhor acredita que o custo de exploração do petróleo vai aumentar?
Lima: É possível que sim, mas será um aumento pequeno, se comparado com o potencial de ganhos.
O Globo: A ANP planeja aumentar a fiscalização na operação das plataformas?
Lima: Certamente. No ano passado, tivemos uma média de 80 semanas
com nossos engenheiros embarcados em plataformas. E o trabalho vai
aumentar com a participação da certificadora internacional Bureau
Veritas.
O Globo: Como o Brasil não tem um programa para conter vazamentos
em alto-mar, nos campos do pré-sal, o que será feito em caso de um
acidente?
Lima: A ANP, o Ibama e a Marinha estão estudando a criação de um
Plano Nacional de Contingência nas atividades exploratórias de petróleo
no mar. Atualmente, somente a Petrobras faz seus próprios planos de
contingência, que são exigidos pela ANP como pré-requisito para
conceder a autorização de operação das plataformas.
O Globo: Qual dos três órgãos será o coordenador do Plano Nacional de Contingência?
Lima: A gente acha que deveria ser a Marinha.
O Ministério do Meio Ambiente está fazendo os estudos para ver como será feito o plano e quem vai coordenar.
O Globo: Então o Brasil não deve interromper a exploração de novos
campos de petróleo, por causa do vazamento no Golfo do México?
Lima: Nenhum país do mundo atingiu a área do pré-sal como o Brasil.
Nós fizemos 80 poços no pré-sal. Temos que redobrar nossos cuidados e a
fiscalização. E vamos tirar proveito de estarmos na frente. Não é
porque os países lá fora estão passando por dificuldades, que nós, aqui
no Brasil, temos que parar nossa produção.
O Globo: A exploração no pós-sal também deve ser acelerada no Brasil?
Lima: O Brasil não se resume ao pré-sal.
Podemos estar correndo o risco de ficarmos um pouco ofuscados pelo
brilho do pré-sal. O resto do Brasil não tem pré-sal, mas é preciso
desenvolver áreas, como a margem equatorial brasileira, que incluí as
regiões Norte e Nordeste. Temos oportunidades nestas áreas de
desenvolver pequenas e médias empresas de petróleo, como na Bacia do
Parnaíba, por exemplo, na parte terrestre dos estados do Maranhão e
Piauí. O Brasil precisa aproveitar essa riqueza para melhorar as
condições de vida e reduzir a desigualdade social da população local.