Obama quer usar vazamento para aprovar lei
Em pronunciamento à nação na noite de ontem, o presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, usou o vazamento de petróleo no Golfo do
México para pressionar o Congresso a aprovar uma lei de energia e
mudança climática. E exigiu que a BP, que opera o poço, “reserve todos
os recursos que forem necessários para compensar trabalhadores e
empresas afetados pela imprudência da companhia”.
Horas antes, cientistas haviam divulgado nova estimativa para o
volume de petróleo que vaza, pior que as anteriores. Segundo os dados,
escapam de 5,56 milhões a 9,54 milhões de litros por dia – o cálculo
anterior era de, no máximo, 8,33 milhões. Há quase dois meses o
petróleo sai de um poço a cerca de 80 quilômetros da costa da
Louisiana. O derramamento já equivale a mais de oito vezes o volume
derramado pelo navio Exxon Valdez no Alasca, em 1989, o mais grave
acidente até então.
Segundo Obama, que se reúne hoje com os líderes da BP na Casa
Branca, será estabelecido um “fundo de caução” de bilhões dólares
depositados antecipadamente, de onde serão retirados os recursos para
cobrir limpeza e indenizações. “Esse fundo não será controlado pela BP,
para garantir que todas as indenizações sejam pagas rapidamente e de
forma justa”, disse. “Será administrado por uma entidade independente.”
A Casa Branca também quer que a BP subsidie os salários daqueles
que perderam seu sustento por causa da suspensão da pesca e das
perfurações de petróleo. A empresa resiste à ideia e o assunto será
discutido hoje. No discurso de ontem, Obama falou durante 15 minutos do
Salão Oval,com transmissão em rede nacional. Foi a primeira vez que ele
se pronunciou do local, reservado para discursos de impacto, como os
feitos pelo ex-presidente George W. Bush nos atentados de 11 de
setembro.
Ele usou o derramamento do poço operado pela empresa BP como mote
para estimular legisladores a aprovar uma lei que está empacada no
Senado e que reduz a dependência de petróleo. “A tragédia que se
desenrola em nossa costa é um alerta doloroso para a necessidade de
abraçarmos agora um futuro de energia limpa”, disse Obama, que não
detalhou o que quer ver na lei. Obama também anunciou Michael Bromwich
como novo diretor do Serviço de Gerenciamento de Minerais, agência
encarregada de supervisionar as empresas que exploram petróleo no país.
A negligência da agência em supervisionar a BP foi um dos fatores que
levaram ao desastre ambiental.
O presidente anunciou também o estabelecimento de uma Comissão
Nacional para investigar as causas do acidente e fazer recomendações
para que nada desse tipo volte a acontecer. “O derramamento do golfo é
como uma epidemia, que vamos combater durante meses ou até anos”,
disse.
Restauração. Obama divulgou a criação de um plano de restauração do
golfo, para cuidar da recuperação da região a longo prazo, com
participação de moradores. Ele também afirmou que, nos próximos dias ou
semanas, novas medidas implementadas pela BP vão “capturar até 90% do
petróleo vazando do poço”. E, até o fim do verão americano, segundo
Obama, estará pronto um poço auxiliar, que deve finalmente conter o
vazamento.
A BP afirmou anteontem que já gastou US$ 1,6 bilhão com a limpeza
das regiões afetadas. Considerando que a empresa deve enfrentar US$ 14
bilhões em multas ambientais se conseguir tampar o vazamento até agosto
e mais até US$ 20 bilhões do fundo de indenização, a conta chega aos
US$ 35,6 bilhões – valor bem maior que os US$ 5 bilhões estimados
inicialmente.
Rebaixamento
A agência de classificação financeira Fitch rebaixou em seis níveis
a nota da empresa BP, por preocupações sobre os custos de limpeza da
área, além das indenizações.