Notícia

Álcool sobe e leva gasolina no embalo


Está mais caro circular motorizado por SC. O álcool hidratado teve um
reajuste de R$ 0,15, em média, nas bombas do Estado. Como tem 25% de
álcool anidro na sua mistura, a gasolina subiu a reboque: R$ 0,05 por
litro. Para completar, a determinação do governo federal de aumentar a
adição de biodiesel no diesel, de 3% para 5%, em vigor desde o dia 1º
de janeiro, elevou o litro do combustível em R$ 0,03.


O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de
Petróleo do Litoral Catarinense e Região, Algenor Costa, afirma que a
alta dos preços já está sendo praticada na maioria dos postos. Quem
ainda não aumentou os valores na bomba está trabalhando com estoques
antigos.


Para ser vantajoso aos motoristas, o álcool deve custar até 70% do
preço da gasolina. No último levantamento da Agência Nacional de
Petróleo (ANP), publicado ontem, isso não ocorre em nenhuma das 22
cidades catarinenses pesquisadas (veja na página ao lado).


Em julho, o álcool alcançou o preço médio mais baixo de 2009 em SC:
R$ 1,676 por litro segundo a ANP. Considerando-se o valor de janeiro,
de R$ 2,199, a alta chega a 31%.


Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados
de Petróleo de Santa Catarina, Luiz Antônio Amin, o aumento do
combustível vem ocorrendo há 15 dias. Pessimista, ele acredita que, em
janeiro, o álcool vá ultrapassar a casa dos R$ 2,20.



A situação ainda pode piorar. O governo deve anunciar nova base de
cálculo do Imposto sobre Mercadorias e Serviços (ICMS). Os números mais
recentes são R$ 1,96 para o litro do álcool e R$ 2,62 para o litro da
gasolina.


Na gasolina, o reflexo é menor em função da adição de álcool anidro.
Mesmo assim, o combustível mais consumido pela frota catarinense está
mais caro. Nem o anúncio do ministro da Agricultura, Reinhold
Stephanes, de que o governo poderá reduzir temporariamente a mistura
para 20%, pode reverter o reajuste. A decisão sai segunda-feira.


– Quando se retira uma parte de um produto mais barato (álcool)
misturado a outro que é mais caro (gasolina), a tendência é que este
produto aumente de preço. Ou, pelo menos, que permaneça como está. A
redução da mistura só vai reduzir a pressão dos preços do álcool –
avalia Algenor Costa.



Efeito Índia não poupa SC


A quebra na safra da Índia, que deixou de ser exportadora de açúcar
para importar mais de 2 milhões de toneladas do produto, se refletiu
numa alta de preços da commodity (produto negociado em Bolsas), que
chegou a sua maior cotação dos últimos 28 anos.


O Brasil não consegue substituir a Índia, mas passou a destinar mais
cana para produção de açúcar e a exportar mais o produto, que encareceu
no mercado interno, o que elevou também o preço do etanol nas bombas.


A Índia é o segundo maior produtor de açúcar do mundo, atrás apenas
do Brasil. Na safra 2008/2009, a perda do país asiático foi forte,
passando de 26,3 milhões de toneladas no ciclo anterior para apenas 15
milhões de toneladas.


A quebra indiana só deve ser sanada no segundo semestre de 2010 ou
então em 2011. Isso porque a área plantada com cana-de-açúcar deve
aumentar no ciclo 2009-2010 em virtude da tendência de alta dos preços
do açúcar, segundo o secretário de Agricultura indiano, T. Nand Kumar.


A expectativa é de que a produção de açúcar em 2009-2010 possa
avançar para 20 milhões de toneladas, segundo Ashok Jain, presidente da
Bombay Sugar Merchants Association.


Se a produção de cana-de-açúcar for realmente retomada, a alta
causada pelo déficit poderá acabar dentro de menos de um ano e a
produção deverá saltar para 25 milhões de toneladas na safra 2010-2011.


Segundo o representante da União da Indústria da Cana-de-Açúcar
(Unica), Sérgio Prado, além do fator Índia, alguns países europeus
deixaram de exportar açúcar, o que agravou o déficit do produto no
mercado mundial.



Preço pode recuar em três meses


Os preços do etanol oscilaram apenas R$ 0,01 nas últimas semanas no
polo produtor do interior paulista e estão se estabilizando, o que vai
se refletir em breve nas bombas, já que há um atraso deste efeito em
função da distribuição. Como a nova safra deve começar em março, a
oferta do produto deve se normalizar e os preços podem recuar em dois
ou três meses.


Mas qual é a explicação para a disparada do álcool? Pode parecer
estranho que um produto 100% nacional tenha aumentado tanto e que parte
da justificativa seja a crise mundial e a quebra na safra de açúcar da
Índia. Mas é o argumento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar
(Unica), que também coloca culpa no clima chuvoso no Sudeste, maior
região produtora de cana-de-açúcar do país, durante a colheita, e na
disparada do consumo. Conforme o representante da Unica em Ribeirão
Preto, Sergio Prado, a venda de carros flex aumentou muito nos últimos
anos. Com a frota maior e um custo relativamente baixo do álcool, subiu
o consumo do combustível.


– A oferta estava grande, com o produto sendo vendido quase ao preço
de custo, de R$ 0,72, R$ 0,80 por litro. Com a crise de crédito, as
indústrias despejaram o álcool no mercado a preços muito baixos.



A safra vai de abril a novembro. Em 2009, Prado diz que houve atraso de um mês na moagem e havia produto ainda em dezembro.


– O inverno no Sudeste é um período de estiagem, ideal para a
colheita da cana, porque ela fica madura quando está seca. No ano
passado, as chuvas que caíram justamente no período da colheita
prejudicaram a qualidade do produto. A safra foi maior em tonelagem,
mas rendeu menos.


As toneladas de cana-de-açúcar produziram 1,8 bilhão de litros e 2,2
milhões de toneladas a menos de açúcar do que renderiam em condições
climáticas adequadas, o que representou um prejuízo de R$ 3 bilhões ao
setor sucroalcooleiro. As exportações de álcool também caíram, reflexo
da retração dos mercados europeu e americano.


Para completar, vender açúcar com preços lá em cima se tornou muito
mais vantajoso do que oferecer álcool desvalorizado no mercado
doméstico. Os empresários fizeram a opção mais lucrativa, obviamente.



Fonte: Diário Catarinense
Data: 11/01/2010