Meio ambiente acelera pré-sal
O ritmo da exploração das reservas do pré-sal, estimadas entre 50
bilhões e 80 bilhões de barris de petróleo, nas próximas décadas, será
influenciado por fatores que não dependem da vontade do governo
brasileiro: a demanda internacional, o nível de reservas existentes e a
mudança da matriz energética, cada vez mais voltada para energia limpa.
Aos poucos, o uso dos hidrocarbonetos (petróleo e gás) como energia
está sendo questionado.
Por isso, o consumo de petróleo tende a
ter uma queda ao longo das próximas décadas e, assim, a exploração do
pré-sal teria que ser acelerada, alertam analistas.
— De maneira
geral, a dúvida é se deve guardar o petróleo, porque os preços podem
ficar mais altos; ou utilizar agora, porque as energias alternativas
vão ganhar cada vez mais espaço — diz o consultor Marco Tavares, da Gas
Energy.
Mudanças na matriz energética são fatos históricos. A
era do carvão, que pontificou no século XIX e foi determinante para o
progresso de Inglaterra e Alemanha, foi destronada pelo petróleo a
partir do início do século passado, que impulsionou os Estados Unidos.
Tavares alerta para o destaque dado ao aspecto ambiental neste início
do século XXI: — A discussão sobre meio ambiente nunca esteve tão forte
como agora
Em 50 anos, risco de perda de valor
O exemplo mais evidente dessa guinada foi anunciado em maio pelo
governo dos Estados Unidos. O presidente americano Barack Obama lançou
novos padrões de emissão de gases poluentes para veículos e metas de
eficiência no consumo de combustível, para ajudar a livrar os EUA de
sua dependência de petróleo. O presidente americano se referiu ao plano
como uma virada histórica em direção a uma economia de energia limpa.
Para
o consultor legislativo Paulo César Ribeiro Lima, ex-funcionário da
Petrobras e especialista no setor, é preciso garantir que a exploração
do pré-sal se concentre nos próximos 40 a 50 anos: — É provável que
daqui a 50 anos o petróleo perca valor, pois o planeta dá claros sinais
do agravamento do efeito estufa.
Lima lembra que as montadoras de veículos estimam que, em 2025, 30% dos novos carros poderão ser elétricos.
Ele
alerta que o governo tem de garantir a exploração até 2050, para
assegurar que o pré-sal não se transforme em um reservatório sem valor:
— Corre-se o risco de grande parte do petróleo recuperável dessa
província nunca ser produzido.
Para o governo, o horizonte não é
tão dramático. A aposta é que pelo menos durante 35 anos, e isso a
partir de 2015 quando os campos do pré-sal começam a produzir pelo
sistema de partilha, o país retire e processe essas riquezas sem
problemas.
— Até 2050 temos um bom cenário, porque os custos do
pré-sal ficam abaixo de US$ 40 (o barril). Mesmo com as taxações por
causa das restrições ambientais, ele ainda será viável economicamente —
afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício
Tolmasquim.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também
é otimista: — Em 40 anos, as reservas conhecidas devem estar esgotadas
e o pré-sal surge como alternativa.
Segundo Tolmasquim, sem
novas descobertas, os campos vão secar, levando a produção global em
2030 a 31 milhões de barris por dia. Como a maior demanda, o déficit
será suprido com novos campos a serem descobertos, incluindo o pré-sal
brasileiro